A crise econômica fez 2,8 milhões de brasileiros perderem o plano de saúde de 2014 para cá, segundo a ANS (Agência Nacional de Saúde). Isso já tem reflexos no bem estar da população. É o que mostram os levantamentos de transplantes de córnea da ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos).
A última estatística disponível, revela que de janeiro a setembro de 2016, o número de indicações de transplante aumentou 7,8% em relação ao mesmo período de 2015. Nos primeiros 9 meses de 2016 totalizou 22.547 indicações, sendo 11.098 transplantes realizados e 11.498 inscritos na fila de espera em setembro. No mesmo período de 2015 totalizou 20.913 indicações, sendo 10.499 cirurgias realizadas e 10.419 na fila de espera em setembro.
A maior causa deste crescimento é o menor acesso às terapias de ponta para tratar o ceratocone, doença degenerativa da córnea que responde por 70% dos transplantes no Brasil. O SUS responde por 95% dos transplantes de córnea no Brasil, mas não oferece os tratamentos que evitam o procedimento.
Diagnóstico precoce
Uma das tecnologias que evitam o transplante é a tomografia da córnea. Isso porque faz o mapeamento das duas faces e permite diagnosticar precocemente, antes dos primeiros sintomas da doença: troca frequente do grau dos óculos, olhos vermelhos, fadiga visual e aversão à luz. A tomografia é especialmente importante no acompanhamento de crianças que têm prognóstico negativo já que a doença tende evoluir mais rapidamente quando aparece na infância. O levantamento de 2016 da ABTO mostra que em média 3 crianças/dia entraram na fila de espera por córnea, totalizando 721 casos até setembro. A maioria poderia ser evitado
Como evitar o transplante
A boa notícia é que crianças e adolescentes respondem melhor ao crosslink, terapia que associa riboflavina (vitamina B12) e radiação UV para tornar a córnea até três vezes mais resistente e interromper a evolução do ceratocone. Em muitos pacientes além de interromper a evolução da doença também melhora a visão em até duas linhas da carta de Snellen. A má notícia é que um atraso de apenas seis meses, comum entre pacientes adultos, já pode ser o suficiente para indicação de transplante em crianças. Além disso, nem todas respondem bem ao tratamento. Este é o caso das que tem cones periféricos já que a luz UV é aplicada em um plano perpendicular e atinge com menos intensidade a periferia da córnea.
Risco dos hormônios femininos
Mulheres diagnosticadas com ceratocone devem estar atentas até à quantidade de hormônio da pílula anticoncepcional. Isso porque, explica, níveis elevados de hormônios femininos podem piorar o ceratocone. Prova disso é o agravamento da doença relatado por pacientes durante a gestação. Como a partir da puberdade a mulher fica exposta a muita variação hormonal o crosslink é a única terapia preventiva entre elas.
Outras terapia
Para diminuir o astigmatismo irregular o crosslink pode ser aplicado em conjunto com o Excimer laser utilizado nas cirurgias refrativas, para eliminar a miopia, hipermetropia astigmatismo. No caso do ceratocone o objetivo do laser é melhorar a correção visual com uso de óculos ou lentes de contato.
Outra terapia elencada para evitar o transplante é o implante de lentes intraoculares sem a retirada do cristalino para corrigir casos de alta miopia ou astigmatismo, comuns em que tem ceratocone. A lente é implantada no olho sobre a íris parte colorida do olho, sem retirar tecido da córnea como acontece na cirurgia refrativa a laser.
O transplante de córnea, também pode ser evitado pelo implante de anel intraestromal em pessoas que têm dificuldade de usar lente de contato por causa do abaulamento da córnea. O anel, evita o transplante porque aplana a córnea e torna o uso da lente de contato mais confortável. O melhor tratamento depende de avaliação médica.
Fonte: http://www.primeiraedicao.com.br