No Brasil, orientais também apresentam mesmo tipo de problema.
Estudo
conduzido pelo pesquisador Ian Morgan, da Australian National
University, e publicado recentemente no jornal Lancet mostra que quase
90% dos jovens adultos de países asiáticos – Japão, China, Taiwan,
Singapura e Coréia do Sul – têm miopia. O problema, considerado
epidêmico, se deve ao fato da rigidez com que crianças e adolescentes se
dedicam aos estudos, sobrando pouco tempo para brincar à luz do dia.
De
acordo com o pesquisador, o que se supunha ser um problema com uma
carga hereditária muito forte acabou evidenciando a relevante
contribuição do ambiente e dos costumes. Como termo de comparação, o
percentual de míopes no Reino Unido não chega a 30%.
Estudos
referentes à população de asiáticos que migraram para outros países
também são reveladores. Chineses que se mudaram para a Austrália, por
exemplo, onde a exposição ao sol é muito mais comum entre os jovens,
apresentam taxas mais baixas de miopia do que seus parentes que
permanecem no país de origem.
Uma
das preocupações dos oftalmologistas em relação às crianças asiáticas
em idade escolar é que entre 10% e 20% apresentam alto grau de miopia, o
que aumenta também o risco de desenvolverem problemas de visão muito
mais sérios na idade adulta, incluindo cegueira. Para Morgan, a causa do
problema é a pressão familiar e social em relação aos estudos, que
exige que as crianças passem muitas horas debruçadas sobre os livros – o
que explica o fato de esses países dominarem os rankings mundiais de
performance educacional.
Na
opinião do doutor Renato Neves, cirurgião-oftalmologista e presidente
do Eye Care Hospital de Olhos, a miopia também acomete bastantes
crianças e jovens brasileiros com ascendência oriental, principalmente
as que moram em cidades com alto grau de competitividade, como São
Paulo. “Geralmente, filhos e netos de imigrantes asiáticos são bastante
cobrados em relação à dedicação aos estudos. Somando isso ao fato de
utilizarem as pausas nos estudos para jogar videogame, temos como
resultado um aumento da predisposição à miopia”.
Aptos
a enxergar só o que está próximo dos olhos, o especialista diz que os
míopes apresentam um alongamento do globo ocular que acaba por
desalinhar a luz na retina. Ou seja, o ponto focal que deveria se formar
na parte de trás da retina acaba se formando antes, fazendo com que a
pessoa enxergue mal tudo o que está distante, como se houvesse um
embaçamento.
Neves
diz que, além de aumentar a predisposição à miopia, a dedicação
intensiva aos estudos, sem pausas para a prática de atividades ao ar
livre, pode provocar também dores de cabeça, lacrimejamento, ardor e
vermelhidão nos olhos. “Essa condição costuma persistir por vários
meses, levando ao diagnóstico de miopia – que pode ser transitória ou
permanente”.
Para
o especialista, os pais devem proporcionar mais atividades ao ar livre a
seus filhos, incentivando pausas a cada duas ou três horas de estudo.
Outra dica: para cada hora que a criança passa debruçada sobre os livros
ou com o olhar fixo na tela do computador, ela deve fazer uma pausa de
pelo menos 15 minutos, piscar várias vezes e olhar pela janela para
focar objetos mais distantes.